Olhar para a Igualdade: 12 de março de 2019

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“Ficar calado não era uma opção para mim.”

~ Primeiro Ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, após ter confrontado líderes árabes sobre a repressão dos direitos das pessoas LGBT



Da ONU: Dia de Zero Discriminação foi comemorado no dia 1º de março e teve enfoque nas leis e práticas discriminatórias que impactam a saúde, a educação, a privacidade e todos os aspectos da vida. O UNAIDS identificou muitas dessas leis no mundo inteiro e incentivou que as pessoas agissem para mudá-las. Também pediu para os países apoiarem a Pacto Global para Eliminar todas as formas de Estigma e Discriminação relacionados ao HIV. Focando na atenção à saúde, no local de trabalho, no sistema educacional, no sistema judicial, nos domicílios e nos contextos emergenciais, o Pacto visa acelerar as mudanças.

A iniciativa do PNUD ‘Ser LGBTI na Ásia e no Pacífico’ promoveu um fórum de cinco dias com 46 defensores/as de direitos humanos de 17 países para discutir como avançar na igualdade jurídica e social das pessoas no Sul da Ásia. Os/as participantes do fórum avaliaram estratégias como a coleta de evidências concretas para formuladores de políticas e o compartilhamento de histórias humanizadas em multimídia. Fatema Bhaiji, fundadora da revista paquistanesa Outcast Magazine, observou:

“Quanto mais visíveis nós nos tornarmos, mais passaremos a simplesmente fazer parte do tecido social dos nossos países… Quando as pessoas leem histórias situadas no contexto local delas, se identificam melhor com elas, e talvez assim tenhamos melhores chances de sermos aceitos e compreendidos.”

O UNAIDS promoveu uma discussão ao vivo no Facebook acerca do impacto da inteligência artificial e big data (grande conjunto de dados) sobre a resposta ao HIV. Os/as participantes discutiram como essas tecnologias digitais surgiram enquanto força significativa—acelerando pesquisas clínicas e melhorando o acesso e a disponibilização de serviços em HIV. Contudo, alertaram que as tecnologias também aumentam o potencial de violação dos direitos humanos.

O mundo reagiu à notícia que um homem HIV positivo em Londres teve cura funcional do HIV por meio do transplante de células tronco. É a segunda pessoa em pouco mais de uma década que parece ter sido curada por meio do processo que envolve um paciente que está recebendo tratamento para câncer e que recebeu células tronco de um doador que possui a mutação genética que cria resistência à infecção pelo HIV. Embora “muito animado” pela notícia, o UNAIDS observou que este tratamento é complexo, custa caro e não é uma maneira viável de se tratar um grande número de pessoas. O diretor executivo Michel Sidibé refletiu: 

“Encontrar a cura do HIV é o último sonho. Embora esta descoberta seja complicada e embora seja necessário muito mais trabalho, nos proporciona muita esperança para o futuro para acabarmos com a AIDS por meio da ciência, através de uma vacina ou uma cura. No entanto, também mostra o quão longe estamos de chegar até lá, além de mostrar a importância absoluta de continuarmos concentrando esforços em prevenção e tratamento do HIV.”

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HIV, saúde e bem-estar: A Conferência Anual sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI) foi realizada em Seattle, Washington, reunindo quase 4 mil cientistas, pesquisadores, epidemiologistas e autoridades de saúde pública de 74 países para discutir os últimos acontecimentos no campo do HIV/AIDS. No seu discurso inaugural, o Dr. Anthony Fauci discutiu sobre o novo plano do governo dos EUA para acabar com a epidemia do HIV em todo o país, focando em “Indetectável = Intransmissível”—tratamento como prevenção e profilaxia pré-exposição. Além disso, o plano terá enfoque em populações-alvo e “focos geográficos” locais incluindo 48 condados majoritariamente rurais e sete estados a maioria dos quais ficam no sul do país.

Apesar de ter abordado alguns aspectos do ceticismo relativo ao plano, as afirmações do Dr. Fauci talvez não sejam suficientes para convencer alguns médicos da zona rural e do sul do país. A Kaiser Health News publicou as preocupações de alguns médicos dos EUA sobre o plano não levar totalmente em consideração os diferentes desafios enfrentados por pacientes em áreas rurais subfinanciadas.

Na sessão plenária da CROI com a Dra. Jeanne Marrazzo intitulada "Negação, maldição ou destino? Ressurgimento das ISTs na atenção e prevenção ao HIV", Marrazzo discutiu sobre o aumento “inacreditável” da sífilis, gonorreia e clamídia. Também discutiu sobre manifestações incomuns das doenças e infecções resistentes à medicação.

Também foram apresentados na CROI dois novos ensaios biomédicos na fase III que estão avaliando a eficácia do uso de medicamentos injetáveis de liberação prolongada para o tratamento do HIV. Estas injeções tomadas apenas uma vez por mês poderiam substituir os comprimidos que as pessoas vivendo com HIV precisam tomar diariamente para controlar a infecção. Ambos os estudos foram otimistas—apenas seis de 1.172 participantes nos dois estudos vivenciaram falha terapêutica. Os medicamentos injetáveis tiveram boa tolerância e os participantes ficaram mais satisfeitos com o tratamento.

Outro estudo apresentado examinou um novo medicamento alternativo para a PrEP para prevenir a infecção pelo HIV. Ao estudar homens gays e outros homens que fazem sexo com homens cisgêneros e mulheres trans, os pesquisadores observaram que o medicamento “Descovy” funcionou tão bem quanto o medicamento Truvada geralmente utilizado. Além disso, anunciaram que é possível que o Descovy possa proporcionar maior segurança óssea e renal que o Truvada. Os pesquisadores observaram que este estudo é significativo porque é o primeiro “ensaio biomédico de prevenção do HIV sem um grupo placebo”.

Uma nova pesquisa na Alemanha publicada na revista Eurosurveillance, avaliou o custo-eficácia da PrEP no país para um período de 40 anos. O estudo baseado em modelagem mostrou que a intensificação da PrEP durante dois anos teria o potencial de evitar 21 mil novas infecções por HIV. Embora os pesquisadores tenham estimado um custo inicial máximo de $171 milhões, também estimaram que após 10 anos da iniciativa a economia total seria de $5,8 bilhões até 2058.

O Ministério da Saúde do Brasil lançou  campanha “Pare, pense e use camisinha” para proteger a população contra as infecções sexualmente transmissíveis durante o carnaval. Voluntários distribuíram milhões de preservativos e sachês de gel, ofereceram testagem rápida para HIV a noite toda e andaram pelas ruas distribuindo material educativo.

Na Índia, a organização Humsafar Trust abriu a primeira clínica comunitária de HIV para comunidades sob alto risco incluindo homens gays e outros homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, e profissionais do sexo. 

Na Austrália, Matthew Wade escreveu sobre a questão do stealthing”—isto é, quando uma pessoa tira o preservativo durante a relação sexual sem o consentimento do/da parceiro/a. Estudo recente na cidade de Melbourne mostrou que um a cada cinco homens gays e bissexuais foi vítima do stealthing e subsequentemente tinham duas vezes mais probabilidade de relatar ansiedade e depressão. Wade argumenta que é hora de chamar essa prática pelo nome—agressão sexual.

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Do mundo da política: reunião de cúpula da União Europeia-Liga Árabe foi realizada no Egito. Durante o evento, o primeiro ministro de Luxemburgo, Xavier Bettel, falou abertamente para os líderes sobre sua sexualidade e comentou que seu casamento seria motivo de pena de morte em alguns países. Numa das últimas coletivas de imprensa, o jornal Guardian noticiou que o presidente do Egito, Abdel Fatah al-Sisi, ignorou críticas relativas aos direitos humanos, dizendo:

“Somos duas culturas diferentes… Nossa prioridade é preservar nossos países e impedir o colapso, a destruição e a ruína, como se pode ver em muitos estados vizinhos.”

Reuters noticiou que houve conflito entre ativistas locais sobre se os líderes europeus deveriam ou não falar em nome das pessoas árabes LGBT+.

Vários países estão novamente enfrentando a questão da "terapia de conversão". No estado australiano de Victoria, o premier Daniel Andrews anunciou que o estado vai tomar medidas para criminalizar a terapia de conversão ainda este ano. O ministro da saúde da Nova Gales do Sul (NSW), Brad Hazzard, anunciou que o governo da NSW está seguindo “a mesma linha” que o estado de Victoria e que iria buscar uma resposta nacional no Conselho dos Governos Australianos. Embora o Partido Trabalhista da Austrália (ALP) tenha feito campanha com promessa de proibir a terapia de conversão em todo o país, recentemente retirou de sua plataforma uma política que criminalizaria a prática.

O ministro da saúde da Alemanha, Jens Spahn, falou para repórteres  que o ministério está avaliando o processo legislativo necessário para proibir a terapia de conversão e que espera que a legislação seja aprovada ainda em 2019. 

Na Polônia, o partido liberal Nowoczesna e a organização LGBT local Kampanią Przeciw Homofobii (KPH) apresentaram ao parlamento um projeto de lei de proibição da terapia de conversão. A KPH lançou um novo site para educar as pessoas sobre estas “pseudo-terapias” e para ajudar as pessoas a compartilharem suas experiências.

Nos EUA, a presidente da câmara, Nancy Pelosi, anunciou que a Lei da Igualdade—uma proposição para proibir a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero no âmbito federal—será apresentada esta semana, segundo reportagem do Washington Blade. Enquanto a lei não for sancionada, os direitos LGBTQ variam de estado para estado.

A organização Human Rights Campaign publicou a edição de 2018 de seu Índice de Igualdade nos Estados com análise das leis e políticas estaduais nos EUA que têm impacto nas pessoas LGBTQ e suas famílias. O relatório afirma que durante o ano de 2018, foram propostas 110 das chamadas “leis adversas” prevendo legislação ou políticas anti-LGBTQ, incluindo restrições aos direitos das pessoas trans, desmantelamento do casamento igualitário, e concessão às empresas do direito de discriminar. No entanto, apenas duas delas foram aprovadas—ambas restringiram o direito de casais do mesmo sexo de adotar filhos nos estados de Kansas e Oklahoma. Por outro lado, foram aprovadas 21 “leis boas”, incluindo legislação de proibição das terapias de conversão, ampliando o reconhecimento de gênero, e emendas a leis antidiscriminatórias. Olhando para o futuro, a HRC acredita que muitos “esforços proativos e pró-igualdade” terão êxito, embora alerte que há uma tendência nas proposições anti-LGBTQ de “permitir formas de discriminação mais restritas e mais direcionadas”

Também nos EUA, foi pedido a tropas trans condecoradas que fizessem depoimentos perante uma subcomissão da Comissão Parlamentar das Forças Armadas. O Washington Post noticiou que o Congresso convocou os/as militares, que eram da Marinha, do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais, para depor a fim de subsidiar a avaliação do Congresso quanto aos esforços do Executivo de proibir as pessoas trans nas Forças Armadas. O atual subsecretário da defesa, o general James Stewart, argumentou que o Executivo não estava "proibindo” as pessoas trans, mas que “adaptações especiais” não poderiam ser feitas para pessoas diagnosticadas com disforia de gênero. Em resposta, a deputada Veronica Escobar perguntou, “De que maneira isto não é discriminação?”

Na Espanha, uma declaração em apoio a políticas contra a homofobia nos esportes foi barrada pelo senador José Alcaraz do partido político “Vox”, de extrema direita. Na conta oficial do partido no Twitter foi postada uma observação que a declaração era um “folheto ideológico” para “introduzir às escondidas a ideologia de gênero pela porta dos fundos”. 

Na Polônia, o prefeito de Varsóvia, Rafał Trzaskowski, assinou uma “Declaração LGBT+” que estabelece a norma contra a homofobia e transfobia na cidade. Também afirma que a educação em sexualidade nas escolas deve se basear nos padrões da OMS. Trzaskowski divulgou uma nota pública condenando como "manipulação" a especulação de que as pré-escolas e creches seriam obrigadas a fornecer educação em sexualidade.

Por outro lado, parece que o partido da situação na Polônia, o Partido da Lei e Justiça (PiS), está denunciando os direitos LGBT+ como parte de sua estratégia eleitoral. Segundo o Emerging Europe, o líder do PiS, Jarosław Kaczyński, falou para as pessoas presentes na convenção do partido que a declaração do prefeito era um “ataque contra a família” e um “ataque contra as crianças”—prometendo que o PiS iria “defender a família polonesa”.

A ILGA-Europa e 21 organizações da sociedade civil lançaram uma nova campanha “#ElectNoHate” (Não eleja ódio). A campanha pede que candidatos, políticos, a mídia e todos aqueles sob os olhares da opinião pública na Europa evitem o uso ou a intensificação de retórica capaz de incitar a discriminação, o preconceito ou o ódio nas campanhas e nas eleições. As organizações apontam para evidências que mostram que houve um pico nos crimes de ódio após períodos de retórica divisiva. Após o referendo sobre o Brexit, por exemplo, afirmam que houve um aumento de 147% nos crimes de ódio contra as pessoas LGBT e um aumento de 41% nos crimes motivados por questões raciais ou religiosas.

Na Tailândia, Pauline Ngarmpring, uma diretora executiva e ex-promotora de esportes, foi selecionada como uma de três candidatos do partido Mahachon concorrendo para o cargo de Primeiro Ministro. Ngarmpring é a primeira trans assumida do país a se candidatar ao cargo de Primeira Ministra. Há cerca de 20 outros candidatos LGBT assumidos concorrendo a vagas na Câmara dos Deputados.  As eleições ocorrerão ainda este mês.  

Na Guatemala, os candidatos gays assumidos Aldo Dávila e Otto René Félix deram entrevista para o Washington Blade sobre seus objetivos para a comunidade se forem eleitos nas eleições em junho.

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A política e o casamento: O Comitê de Assuntos Estrangeiros do Reino Unido divulgou um relatório com 44 páginas intitulado “Grã Bretanha Global e os Territórios Britânicos Ultramarinos: Reiniciando a Relação” que abrange tópicos como imigração, cidadania e atenção à saúde. Pede que todos os Territórios Britânicos Ultramarinos legalizem o casamento entre pessoas do mesmo sexo e pede para o parlamento fixar um prazo para a aprovação dessa legislação.

Por outro lado, a Ministra das Igualdades do Reino Unido, a baronesa Williams, anunciou que o governo não apoia uma emenda para estender o casamento igualitário à Irlanda do Norte. A ministra afirmou que esta questão deveria ser resolvida pela própria Assembleia da Irlanda do Norte:

“A legislação deve ser desenvolvida levando em conta o amplo leque de opiniões sobre esta questão na Irlanda do Norte, bem como as diversas exigências jurídicas.”

Na República Tcheca, o prefeito de Praga, Zdeněk Hřib, integrou a campanha “Somos Justos” e assinou uma declaração em apoio ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Embora no mês passado o parlamento tenha analisado uma emenda permitindo o casamento entre pessoas do mesmo sexo, atualmente somente é permitida a parceria civil no país. Já que o apoio no parlamento ficou estacionado, a diretora de advocacy da campanha, Adéla Horáková, explicou que agora estão buscando o apoio de prefeitos e líderes municipais porque ainda que eles “não votem as leis, eles estão mais próximos do povo”. O prefeito Hřib pediu para outros prefeitos se integrarem à campanha, observando:

"O casamento deveria estar disponível sem discriminação para qualquer casal que deseje expressar respeito, amor e apoio mútuo. É uma questão de igualdade, porque sem dúvida hoje a parceria civil não é o equivalente jurídico do casamento."

Nos EUA, o primeiro casal gay a receber uma licença de matrimônio—ainda que por erro do escrivão que emitiu o documento—teve seu casamento reconhecido oficialmente. O casal, Michael McConnell e Jack Baker, obtiveram a licença em 1971 do estado de Minnesota, mas só foi agora que os tribunais decidiram que a licença é válida, após uma longa batalha jurídica . Em fevereiro, o Departamento da Segurança Social concedeu-lhes benefícios de cônjuge.

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Que os tribunais decidam: No Brasil, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, suspendeu uma sessão que julgava se a homofobia e a transfobia devem ser consideradas infrações criminais equiparadas à discriminação racial. O presidente Toffoli observou que a sessão estava demorando demais e que resultou em outras 32 ações serem deixadas para trás. Embora não tenha sido marcada uma nova data para retomar o julgamento, quatro dos 11 ministros votaram a favor da criminalização, faltando ainda sete votos.

Na Tunísia, autoridades recorreram de uma decisão judicial de 2016 que permitiu o funcionamento do grupo LGBT Shams—segundo o presidente do Shams, Mounir Baatour. A Human Rights Watch pediu para o governo desistir do recurso.

No Japão, o Tribunal Distrital de Tóquio determinou que a Universidade de Hitotsubashi não teve culpa pela morte de um estudante que teve sua orientação sexual revelada a um grupo de pares. Seus pais entraram com ação alegando que a universidade deixou de criar um ambiente livre de agressão.

O Superior Tribunal de Botsuana está se preparando para ouvir sustentações orais contra artigos do Código Penal utilizados para criminalizar as pessoas homossexuaise para impor penas de até sete anos de reclusão. O advogado Tashwill Esterhuizen notou que os tribunais de Botsuana "têm sido um exemplo" de como os tribunais podem promover os direitos humanos, e acrescentou: 

"Estamos confiantes e esperançosos que o tribunal vai assegurar os direitos humanos da comunidade LGBTI."

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Sobre a Religião: Mais de 800 líderes da Igreja Metodista Unida do mundo inteiro se reuniram no estado de Missouri em um encontro especial para debater a ordenação de clérigos LGBT e a atual proibição do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Em votação, 53% foram a favor de adotar o “plano tradicional” que destaca que a “prática da homossexualidade é incompatível com os ensinamentos cristãos”. Conforme este plano, os pastores que celebrarem casamentos serão repreendidos e poderão ser destituídos do cargo na igreja. Embora muitos estejam preocupados porque acham que a decisão poderá provocar um desacordo, a bispa Karen Oliveto, a primeira bispa lésbica assumida, afirmou que não pretende desistir:

 “Eu fui criada aqui. Eu fui nutrida no amor de Deus aqui. Meu discipulado foi aprofundado por meio desta igreja e eu a tenho servido fielmente. Para onde eu iria? Aqui é minha casa.”

No Reino Unido, a ativista Hafsa Qureshi falou sobre como sua sexualidade impactou seu amor pelo islã. Observando que sua religião e sua bissexualidade a transformam em uma “forasteira estranha” em ambas as comunidades, acrescentou:

“Resolvi tomar aquele poder e utilizá-lo, como uma arma para aumentar a visibilidade de outras pessoas como eu, apesar de termos existido por muito tempo.”

No Japão, alguns budistas estão examinando como apoiar melhor as pessoas LGBT na vida e na morte sem discriminação. Uma preocupação em especial dos sacerdotes diz respeito às denominações específicas de gênero atribuídas aos indivíduos sobretudo durante a cerimônia que marca o momento quando uma pessoa falecida se torna uma discípula do Buda. 

Na ilha indonésia de Sulawesi, a tradição do “bissu”, sacerdotes intersexo venerados pela combinação dos sexos entre o povo Bugis, diminuiu dramaticamente. Farid Ibrahim fez uma reportagem sobre a tradição dos Bugis e como seu conceito de cinco gêneros vem sendo impactado pelo aumento da homofobia e transfobia na região.

Mais sobre Religião


Medo e ódio: A organização Human Rights Watch atualizou seu Relatório Mundial 2019 e as revisões dos direitos das pessoas LGBT em 112 países. Além disso, a HRW produziu um novo recurso intitulado “#Outlawed The Love that Dare Not Speak its Name” (“#Fora-da-lei O amor que não ousa falar o nome”, em português) que fornece mapas de fácil acesso sobre as leis que têm impacto na identidade de gênero, na expressão de gênero e na orientação sexual. O primeiro mapa mostra os 6 países com leis contra pessoas trans e de gênero inconforme, e os 69 países com leis nacionais que criminalizam as relações sexuais consentidas entre pessoas do mesmo sexo. Fornece referência especial a outros países que têm proibições vagas ou leis conflitantes. Há novos mapas examinando a redação das leis e as diferentes penas criminais enfrentadas pelas pessoas ao redor do mundo. Por último, um dos mapas examina os 37 países que criminalizam as relações sexuais entre mulheres. 

Na Turquia, o programa de notícias na TV apresentado por Çağlar Cilara foi cancelado pelo Canal TV5 depois que entrevistou Alper Taş—candidato a prefeito do distrito Beyoğlu em Istambul. Durante a entrevista, Taş falou que o país deveria proteger as pessoas LGBT. Houve reclamações de espectadores e Cilara foi acusado de difundir propaganda pró-LGBT.  Em janeiro, o Conselho Supremo de Regulação da Mídia do Egito suspendeu o canal LTC TV por duas semanas e um tribunal multou o apresentador de TV Mohamed al-Gheiti em 1.000,00 EGP por transmitir uma entrevista com um gay na TV

primeiro correspondente da BBC a focar questões LGBTQ, Ben Hunte, falou abertamente sobre a quantidade significativa de abuso racial e homofóbico que vem recebendo pelas mídias sociais e por email por fazer notícias com enfoque LGBTQ. Hunte participava de um painel mediado pelo editor-chefe da Attitude Cliff Joannou quando lembrou: 

“Eu tive conversas internas com a BBC porque aquela matéria era apenas divertida e acolhedora sobre a história LGBT. A partir do momento que eu me aprofundo e coloco pessoas vulneráveis nas notícias, como vão ser aqueles comentários?"

O ministro de Assuntos Religiosos da Malásia, Mujahid Yusof Rawa, condenou a manifestação em comemoração ao Dia Internacional da Mulher porque incluiu grupos LGBT. Rawa alegou que o evento foi um “abuso de um espaço democrático” porque defendeu “coisas que são erradas do ponto de vista do islã”. Em resposta, as organizadoras do evento divulgaram uma nota dizendo que a controvérsia foi criada para distrair a atenção dos objetivos da marcha. Suas demandas incluíam o fim da violência baseada em gênero e orientação sexual, a proibição do casamento infantil, a garantia do direito da mulher em relação ao próprio corpo, um salário mínimo maior, e uma demanda pela construção de uma democracia verdadeira. As organizadoras chamaram o ataque às pessoas LGBT de “oportunismo político” e “pânico moral instigado pela mídia”, dizendo:

“Houve atenção desproporcional com objetivo de destacar a presença de participantes LGBT. Isto beira na incitação ao ódio e à violência contra um segmento da sociedade malaia que já está em risco e enfrenta formas múltiplas de discriminação.”

A controvérsia foi manchete no mundo inteiro e levou outras pessoas a se manifestarem. O parlamentar Charles Santiago pediu o fim da “demonização da comunidade LGBT” e pediu foco nas demandas da marcha. A ativista Marina Mahathir acusou Rawa de “tentar fazer manobras para evitar solucionar os problemas muito reais vividos pelas mulheres”. Já o Centro de Jornalismo Independente da Malásia (CIJ) disse que a matéria estava sendo coberta de “maneira sensacionalista” e que os jornais estavam “deixando de cumprir seu dever de fazer reportagens justas”. 

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Ventos de mudança: Em 8 de março o mundo comemorou o Dia Internacional da Mulher. Escrevendo para a Reuters, a executiva internacional da OutRight Action,Jessica Stern, falou sobre a importância da inclusão e da diversidade das mulheres.  A diretora executiva da “ShoutOut”, Bella FitzPatrick, entrevistou oito ativistas feministas bissexuais, lésbicas, trans, intersexo, hijra e queer de diferentes partes do mundo.

Ella Tennant, professora bolsista na Keele University, explorou como a língua inglesa tem sido utilizada para marginalizar e reforçar estereótipos culturais e sociais das mulheres trans, não binárias e cisgênero. Os criadores do Projeto Hebraico Não Binário deram entrevista para them sobre seu trabalho voltado para tornar o judaísmo mais acolhedor para as pessoas queer. O projeto fornece um guia abrangente sobre pronomes hebraicos neutros de gênero e explora o precedente bíblico de identidades trans e não binárias. E no Japão, a Federação LGBT publicou novas diretrizes para ajudar a mídia a dar cobertura das questões LGBT. As diretrizes contêm conceitos básicos sobre questões LGBT, um glossário que explica como usar determinadas palavras e uma lista de verificação para evitar o revelar a orientação sexual ou identidade de gênero de indivíduos que não querem fazê-lo.

Na Austrália, Bridget Clinch conversou com a mídia sobre os desafios enfrentados por pessoas trans nas forças armadas. Clinch, a primeira soldado a fazer a transição para o gênero com a qual se identifica enquanto servia na Força de Defesa da Austrália (ADF), foi demitida inicialmente quando se assumiu. Desde que ela contestou e saiu vencedora da política da ADF sobre pessoas trans, pelo menos 44 soldados trans receberam tratamento para a disforia de gênero. Clinch observou: 

“Todo mundo acha que acontece com você algo do tipo princesa da Disney quando você faz a transição, mas na verdade é que você passa a começar a viver a sua vida.”

A feminista e ativista lésbica sérvia Lepa Mladjenovic escreveu sobre a “notícia extraordinária” a respeito da parceira da Primeira Ministra, Ana Brnabić, que é lésbica assumida, que deu à luz um menino—apesar da legislação da Sérvia que impede que os casais do mesmo sexo possam se casar ou adotar filhos. Mladjenovic explicou a raiva sentida por muitas pessoas LGBT porque a primeira ministra não se utilizou do cargo para promover os direitos básicos da comunidade ainda que tenha criado a própria família:

“Nesta situação específica, o fato de que a primeira ministra é lésbica e mãe lésbica se funde com o fato de que ela representa a política nacionalista, corrupta e autoritária.”

A organização sem fins lucrativos sediada nos EUA, Men Having Babies (Homens tendo filhos), está realizando seu primeiro evento na Ásia para fornecer orientação a pessoas LGBT+ que querem ser pais. O evento, com dois dias de duração, visa ter enfoque em gestação de substituição, médicos, advogados e clínicas regionais.

Williams Institute divulgou os dados demográficos e socioeconômicos mais recentes sobre a população LGBT dos EUA. A análise abrangente estima que haja em torno de 11.343.000 de adultos LGBT e que a maioria resida nos estados do sul do país. Junto com os dados, o Instituto lançou um site interativo que permite filtrar os dados por estado, raça, gênero e situação conjugal.

A escritora Amelia Hess fez uma matéria sobre quatro organizações nos estados do sul dos EUA que estão trabalhando para ajudar jovens LGBTQ a encontrarem “famílias de escolha”. Ela observou que estes e outros grupos “têm sido essenciais em liderar conversas” sobre os direitos LGBTQ por meio de um entendimento da cultura local.

Mais sobre Ventos de mudança


Ambiente escolar: Na Nova Zelândia, cerca de 40 mil pessoas assinaram um abaixo-assinado dirigido ao parlamento solicitando que o Ministério da Educação retire referências à diversidade de gênero do guia de educação em sexualidade e que remova recursos didáticos sobre a diversidade de gênero do portal bilíngue de educação do país. O abaixo-assinado argumenta que “endossar a discordância de gênero como sendo normal por meio da educação pública e políticas legais vai confundir as crianças e os pais”. A coordenadora nacional da organização GenderMinorities Aotearoa, Ahi Wi-Hongi, observou que o número de assinaturas estava “suspeitosamente alto” para um país tão pequeno e indagou quantas assinaturas vieram de fora da Nova Zelândia. 

O Departamento da Educação do Reino Unido publicou novas diretrizes a respeito de “Educação sobre Relacionamentos, Educação sobre Relacionamentos e Sexo (RSE) e Educação em Saúde”. O material será considerado compulsório nas escolas do ensino fundamental e médio a partir de setembro, embora os pais possam retirar os estudantes com menos de 16 anos de idade. Entre os novos tópicos a serem ensinados, as diretrizes afirmam que o conteúdo específico sobre LGBT é “integral” mas que as escolas têm “liberdade para determinar como abordá-lo”. Também afirmam que a orientação sexual e a identidade de gênero devem ser integradas apropriadamente no decorrer de um programa de RSE.

A organização Stonewall elogiou as diretrizes e pediu para o governo “investir suficientemente em capacitação e recursos”. Mais de 111 mil pessoas assinaram um abaixo-assinado argumentando que  deveria ser permitido que os pais pudessem optar que seus filhos não recebam esta educação sobre relacionamentos e sexo.

Em 2006 a Argentina aprovou uma lei para proporcionar um currículo abrangente de educação em sexualidade (ESI) a todos os estudantes das escolas públicas e particulares, incluindo discussões sobre contracepção e não discriminação de pessoas LGBT. Em matéria no Latin America Reports, Frances Jenner mostrou que está sendo implementado apenas esporadicamente nas escolas atualmente. Jenner analisou os grupos oponentes da ESI e seus argumentos contra a “ideologia de gênero” e a “promoção da homossexualidade”.

Na Austrália, a repórter Rachel Rasker entrevistou estudantes LGBT internacionais estudando no país sobre os desafios que enfrentaram para fazer parte da vida escolar como pessoas “que são assumidas há anos”:

“Sabem o que querem fazer, sabem do que gostam, mas estão sentados aqui (pensando) não posso nem falar ‘sou gay’ sem morrer de medo.”

Nos EUA, o nadador e orador de 18 anos de idade, Seth Owens, foi manchete por arrecadar dinheiro para estudar na Georgetown University após os pais o terem expulsado de casa por ser gay. Owens arrecadou mais de $141 mil da população e mais $25 mil de Ellen DeGeneres e da parceira corporativa Cheerios. Agora Owen utilizou o dinheiro para estabelecer a Fundação Unbroken Horizons (Horizontes Inquebráveis) que fornecerá  bolsas de estudo a pessoas LGBTQ+ de cor. Owens observou: 

“Um mentor meu me disse que eu não teria recebido o mesmo apoio se eu fosse um estudante de cor... Não posso simplesmente dizer que não sou racista porque não me comporto como tal. Tenho que agir e fazer alguma coisa a respeito. Esta é minha própria convicção, minha própria obrigação, que sinto como sendo minha da responsabilidade pessoal.”

Também nos EUA, um político do Kansas retirou seu apoio a um projeto de lei anti-LGBTQ depois que a filha o fez passar vergonha em público. Em sua carta, Christel Highland implorou o deputado Ron Highland a explicar por que apoiaria um projeto de lei que “eleva o ódio e faz mal à minha família ou aos meus amigos”:

“Legislação que exala o desrespeito total a qualquer pessoa, empenhando-se ativamente para tornar mais difícil a vida alheia não é digno de você. Eu te amo, sempre te amarei, apesar de seus defeitos. No entanto, não posso compactuar com suas ações cruéis.”

Mais sobre Ambiente escolar  


Esportes e cultura: A atriz queniana Samantha Mugatisia ganhou o prêmio de melhor atriz no Festival de Filmes Fespaco em Burkina Faso por seu papel no filme lésbico Rafiki

A repórter Sonia Elks entrevistou drag kings, a maioria performistas mulheres ou trans que interpretam personagens masculinos. Nigel Edley da Nottingham Trent Universityexplicou que o drag permite que as pessoas possam "examinar e questionar conscientemente os papéis de gênero" e ao mesmo tempo desafiar os estereótipos masculinos. 

O designer nigeriano Raldie Young falou para o NoStringsNG sobre ter criado sua própria marca de roupas para promover a igualdade e a aceitação social das pessoas LGBT e de outros grupos marginalizados.

A autora Sandy Allen compartilhou a experiência profundamente íntima da descoberta do gênero enquanto "arrumava " o apartamento:

"Não demorou muito para eu perceber o que eu estava jogando fora. Eram apenas as saias, apenas os vestidos, apenas as flores e a renda e os brilhantes. Era tudo que comprei na esperança de que alguma colega falasse: Que lindo! Chorei lágrimas, fiquei cheia de vergonha, e depois dei risada pelo fato de que este livro me fez chorar, esse livro bobo, besta sobre limpeza."

Mais sobre Esportes e Cultura

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