Olhar para a Igualdade: 5 de agosto de 2020

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Carxs amigxs e colegas,

Já respondeu nossa pesquisa de cinco minutos para dar um novo formato à newsletter Olhar para a Igualdade? Gostaríamos de ouvir sua opinião. Suas respostas, completamente anônimas, vão nos ajudar na continuidade do projeto.

 

Diretamente da ONU: O UNAIDS parabenizou a Dra. Tlaleng Mofokeng, uma ativista sul-africana da área de gênero e direitos de saúde sexual e  reprodutiva , por sua nomeação como a nova relatora especial da ONU sobre o direito à saúde. Ela é uma das fundadoras da Sexual and Reproductive Justice Coalition of South Africa (SRJCZA), além de ser uma autora e fonte especialista regularmente consultada pela mídia sobre saúde sexual. Em entrevista ao Daily Maverick sobre seu novo cargo, Mofokeng explicou que tem planos para certificar-se que as necessidades dos pacientes orientem as agendas:

“Particularmente, sou muito boa em mostrar as ligações entre os temas e elevar a conversa, para que possamos olhar para as falhas de governança e liderança.”

 

O Conselho de Segurança da ONU promoveu uma reunião sobre violência sexual relacionada a conflitos, a fim de debater como resoluções contra essa questão podem ser transformadas em ações. A representante especial Pramila Patten apresentou um estudo atualizado sobre o tema “violência sexual” como sendo “uma tática de guerra, tortura e terror, além de ser uma ferramenta de repressão política.” Embora mulheres e meninas sejam as vítimas primárias, o relatório revela que pessoas LGBTIQ, meninos e outros homens foram comprovadamente vítimas dessas condições. Ela afirma:

“Sabemos que a violência sexual se caracteriza pelas taxas surpreendentes de impunidade e reincidência. Chegou a hora de começar uma nova era de monitoramento e aplicação aprimorada das leis, trazendo todas ferramentas necessárias.” 

 

O especialista independente da ONU em orientação sexual e identidade de gênero, Victor Madrigal-Borloz, participou de uma discussão virtual comandada pelo Centro de Vítimas de Tortura, a respeito da experiência de pessoas LGBTQ+ no que diz respeito a tortura, perseguição, criminalização e patologização (o ato de fazer com que a sexualidade ou a identidade de gênero da pessoa seja classificada como uma disfunção clínica). Assista à discussão no link acima.

O PNUD lançou um novo estudo destacando que a adoção da renda básica garantida para aquelas pessoas vivendo na linha da pobreza ou um pouco acima dela em 132 países desaceleraria a difusão da COVID-19. Estima-se que uma renda básica temporária por seis meses custaria apenas 12% do total da resposta esperada à Covid em 2020. Em todo o mundo, pessoas LGBTQ e profissionais do sexo estão entre as populações mais vulneráveis à Covid, devido ao desemprego e à impossibilidade de acessar programas de proteção social

O UNAIDS, PNUD, OMS e a Universidade de Georgetown lançaram um “ COVID-19 Law Lab” para organizar um banco de dados sobre leis, declarações sobre políticas, medidas de quarentena, e outras ações jurídicas criadas em 190 nações como resposta à pandemia de COVID-19. Esse laboratório vai rastrear e avaliar ações de modo a ajudar no desenvolvimento das melhores práticas, guiando países nos seus esforços para recuperação. O UNAIDS já criticou as autoridades que usaram declarações sobre a Covid para perseguir pessoas LGBTQ e outras populações-chaves. A diretora-executiva Winnie Byanyima afirmou:

“Leis prejudiciais podem agravar o estigma e a discriminação, além de infringir os direitos das pessoas e prejudicar as respostas de saúde pública. Para garantir que as tratativas à pandemia sejam efetivas, humanas e sustentáveis, os governos devem usar a lei como uma ferramenta para defender os direitos humanos e a dignidade das pessoas afetadas pela COVID-19.”

 

A enviada para Assuntos de Juventude do secretário-geral da ONU, Jayathma Wickramanayake, do Sri Lanka, convocou líderanças a investirem em serviços e espaços para a juventude LGBTIQ que sejam “essenciais e que salvem vidas.” Ela notou que a COVID-19 fechou serviços de apoio, deixando muitas pessoas jovens LGBTIQ isoladas. Ela descartou o discurso popular de que as comunidades digitais podem substituir completamente o apoio presencial, já que muitos e muitas jovens em todo o mundo não têm acesso à internet e ainda quem sofra  abuso online frequentemente. Ela reflete sobre uma tendência de acabar com as proteções legais, especialmente para jovens trans:

“A pandemia ressaltou as desigualdades já existentes e proporcionou a ocasião para o aumento da retórica de ódio e de novas políticas retrógradas em todo o mundo.”

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HIV, saúde e bem-estar: a Agência de Medicamentos da Europa aprovou o anel vaginal dapivirine (DPV-VR, na sigla em inglês) para prevenir o HIV entre mulheres cis em áreas com altas taxas de HIV. O anel aplica a droga antirretroviral dapivirine por um mês. Mesmo com os dados mostrando que talvez seja menos eficaz que a PrEP, defensores e especialistas elogiam o anel por oferecer uma opção discreta, com longa duração e fácil de utilizar.

 A MPact publicou uma nova série de casos de estudo avaliando o acesso à PrEP na Austrália, Quênia, Ucrânia, Vietnã e Zimbábue. Os casos de estudo apresentam iniciativas que são conduzidas por homens gays e bissexuais e destacam os esforços de advocacy lideradas pela comunidade, marketing social, treinamentos e prestação de serviços a fim de tornar a PrEP mais acessível para homens gays e bissexuais.

 Um novo estudo apresentado na Conferência Internacional sobre AIDS mostrou que clínicas no Vietnã foram capazes de aumentar drasticamente o número de mulheres trans participando de programas de PrEP, enquanto outras mulheres trans foram contratadas para oferecer aconselhamento e apoio dedicado. Foi descoberto que muitas pessoas trans tinham medo da interação da PrEP com a terapia hormonal para afirmação de gênero e foi constatado que a provisão de cuidados qualificados à população trans poderia responder à essas preocupações. 

 Diretamente dos Estados Unidos, um novo estudo publicado na JAIDS averiguou uma amostra que é nacionalmente representativa de pessoas trans que não vivem com HIV para determinar as taxas de testagem de HIV e uso da PrEP. O estudo descobriu que somente 48% das pessoas trans estavam cientes da PrEP e somente 3% afirmaram tomá-la atualmente. Os pesquisadores também notaram uma grande lacuna na testagem de HIV. No entanto, as pessoas que buscavam informações de fontes LGBTs eram mais propensas a fazer o teste do que as demais. Concluiu-se que serviços com ampla oferta de terapia hormonal para afirmação de gênero, PrEP e testagem aumentariam a aceitação nos EUA.

 Pesquisadores do Malawi disseram em um estudo que jovens continuaram a ter comportamentos sexuais de risco, mesmo quando tinham bom conhecimento sobre o HIV. No entanto, adolescentes que tiveram acesso à educação entre pares seriam 96% menos propensos a terem relações sexuais e seriam três vezes mais inclinados a usar preservativos. Pesquisadores da Universidade Mzuzu e da Universidade do Malawi estão ampliando a intervenção para avaliar o impacto nos estudantes universitários.

 Um estudo publicado no Journal of Culture, Health, & Sexuality sobre homens gays e de outras minorias sexuais no Canadá descobriu que a maioria interpretou mal a mensagem U=U (pessoas vivendo com HIV com carga viral indetectável não podem transmitir o HIV sexualmente). A maioria pensava que uma pessoa vivendo com HIV que esteja “indetectável” fosse alguém apenas com “baixa” ou “menor” chance de transmitir o HIV sexualmente. Além do mais,  homens que não vivem com HIV mostraram um “ceticismo científico significante”  e uma relutância em considerar o que os parceiros lhes dizem sobre as respectivas cargas virais ao escolherem os parceiros sexuais.

 No Chile, a Margin Foundation for Sex Workers e a Comunidade Internacional de Mulheres Vivendo com HIV divulgaram um posicionamento condenando o governo pelas restrições relacionadas à COVID-19 que cancelaram cuidados médicos e testes para pessoas vivendo com HIV e por não incluírem preservativos femininos no pacote de necessidades básicas concedidas aos cidadãos e às cidadãs.

 Ativistas irlandeses e profissionais da área médica solicitaram aos governos que reabrissem clínicas públicas de saúde sexual, permitindo acesso a serviços emergenciais com foco em HIV. O Jack Lambert, do Hospital Mater, pontuou:

“Não se pode eliminar a COVID, por isso precisamos aprender a conviver com o vírus e elaborar um roteiro para retornar aos serviços normais, incluindo serviços de ISTs.”

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Mundo da Política: Na Polônia, dias após o presidente Andrzej Duda ter sido reeleito ao cargo, com uma campanha que adotou uma retórica homofóbica, o Ministro da Justiça Zbigniew Ziobro anunciou que a Polônia vai se retirar do Tratado Europeu sobre violência contra a mulher. Chamado a “Convenção de Istambul”, o tratado foi tido por Ziobro como um meio de promover a “ideologia LGBT”, levando à aceitação de casamentos entre pessoas do mesmo sexo e de pessoas trans. Mesmo que esses conceitos tenham sido empregados por oponentes na Eslováquia, Bulgária e nas regiões Europa do Leste e Central , o Conselho Europeu vem repetidamente rejeitando esses equívocos. Milhares de manifestantes se posicionaram no país para dar apoio à convenção.

 

Enquanto isso, a União Europeia negou recursos a seis grandes cidades polonesas que criaram “áreas livres de LGBTs”. Cerca de um terço das cidades do país declarou isenção da “ideologia LGBT”, fazendo com que algumas “cidades irmãs” da Europa encerrem relacionamentos com elas. Os tribunais nas cidades de Radom e Gliwice determinaram que as resoluções nessas cidades são consideradas sem base legal e discriminatórias. Apesar das decisões e das ações da UE, alguns oficiais do governo declararam que “toda a Polônia deveria ser uma área sem LGBTs”.

 

Nos Estados Unidos, o secretário de Estado Mike Pompeo divulgou o rascunho do relatório da “Commission on Unalienable Rights” (Comissão sobre direitos inalienáveis, na tradução livre para o português). A comissão passou o último ano avaliando “novas reivindicações de direitos humanos” e, em um relatório de 60 páginas, questiona a “legitimidade” delas, de acordo com a CNN e outros veículos da imprensa. Ao entregar este projeto, Pompeo defendeu que “muitos [direitos] valem a pena serem defendidos à luz de nossa fundação; outros não são.” 

Em resposta ao relatório, mais de 200 grupos de direitos humanos, lideranças governamentais, educadores, defensores e lideranças religiosas assinaram uma carta aberta para se “oporem vigorosamente.” A Anistia Internacional chamou de "fracasso colossal da liderança dos EUA, o que poderia prejudicar a proteção dos direitos humanos em todo o mundo" e observou:

“O governo dos EUA não tem permissão legal para redefinir unilateralmente suas obrigações sob tratados internacionais de direitos humanos, que quase todos os países do mundo concordaram em cumprir”.

 

Na Austrália, o Parlamento do estado de New South Wales prepara-se para uma segunda leitura da “Emenda Antidiscriminação (Religious Freedoms and Equality, Liberdades Religiosoas e Igualdade, na tradução livre para o português) – Projeto de Lei 2020.” O governo define o PL como um meio de “conciliar direitos humanos conflitantes e medidas antidiscriminatórias.” No entanto, alguns especialistas afirmam que tal medida eleva a expressão religiosa em relação a outros direitos humanos, fazendo com que alguns argumentos religiosos sejam usados para anular medidas governamentais, conforme noticiado pelo Star Observer

 

O PL estadual é semelhante ao polêmico PL de Liberdade Religiosa no nível federal atualmente parado no Parlamento da Austrália, enquanto o governo se concentra na COVID-19. No início deste ano, o procurador-geral Christian Porter divulgou comentários do inquérito público sobre o mais recente projeto de lei de liberdade religiosa, que mostra que a população permanece fortemente dividida. Caso fosse aprovada, significaria que os direitos religiosos iriam substituir os outros e anulariam outros PLs federais e estaduais contra a discriminação, segundo The Guardian e outros jornais.

 

O ministro de Assuntos Religiosos da Malásia, Zulkifli Mohamad, anunciou no Facebook que autorizou autoridades religiosas do país – chamadas Jawi – a prender pessoas trans de modo a encorajá-las  a  “voltar para o caminho certo” — segundo o South China Morning Post e outros veículos da imprensa. Muitas organizações locais e internacionais se pronunciaram e alegaram que os anúncios são perigosos. A Comissão Internacional de Juristas (ICJ) ressaltou:

“O ministro está legitimando assédio, discriminação e violência contra pessoas trans, além de estar aumentando as violações dos direitos humanos.”

A Malaysian National News Agency destacou que Zulkifli está disposto a se encontrar com ONGs para debater questões relacionadas à comunidade LGBT. No entanto, ele defendeu seu posicionamento prévio, afirmando que os Jawi não fizeram mau uso do poder. 

 

O Times of Israel destacou que o Parlamento do País – o Knesset – passa por uma crise de coalizão devido a uma votação sobre terapia de conversão. Em 22 de julho, houve uma votação inicial para banir tal terapia. O Projeto de Lei passou quando o partido Azul e Branco votou a favor da proibição – acabando com a coalização com o Partido Likud (do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu) e irritando os aliados ultraortodoxos. Ao definir esse caso como “particularmente sério”, o ministro do Likud, David Amsalem, divulgou que, devido à votação sobre a lei de conversão, “nenhum outro PL seria adiantado no comitê nesta semana, a não ser lei urgentes relacionadas ao coronavírus”. A proibição à terapia de conversão deve passar por uma segunda e uma terceira votação antes de sua efetivação. Apesar dos transtornos, o líder do partido Azul e Branco (assumidamente gay), MK Eitan Ginzburg, pontuou:

“Ninguém tem mais orgulho do que eu. O terror que prejudica e abusa jovens e cria danos duradouros deveria deixar este mundo.”

 

No México, o Congresso da Cidade do México aprovou um Projeto de Lei criminalizando a terapia de conversão, descrita como os “contratos, tratamentos, terapias ou serviços, tarefas ou atividades que pretendem corrigir a orientação sexual e a identidade ou expressão de gênero, prejudicando a autodeclaração livre”. Quem violar a lei será punido com dois a cinco anos de prisão, segundo o El Universal.

 

No Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson disse à BBC que o governo vai “fazer um estudo” sobre a terapia de conversão e, em seguida, “apresentará planos para sua proibição”. Enquanto alguns ativistas congratularam-se com o apoio, outros se frustraram pela falta de ação. Em 2018, o Reino Unido lançou o “Plano de Ação LGBT” com 75 comprometimentos incluindo uma promessa de “erradicar as práticas aberrantes das terapias de conversão”. O plano de ação também fez inúmeras promessas a respeito de reformar o processo de reconhecimento de gênero. No entanto, não houve progresso e o Sunday Times reportou recentemente que o governo abandonou os planos sobre reconhecimento de gênero.

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Políticas da União: Na Rússia, o Parlamento está considerando um pacote de projetos de lei que seriam uma emenda ao Código da Família com a finalidade de “fortalecer a instituição familiar”, segundo o Moscow Times e outros veículos da imprensa. As medidas incluem proibições ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, matrimônios com pessoas trans, adoções por casais de pessoas do mesmo sexo e uma restrição à alterações de gênero em certidões de nascimento. Esse cenário segue uma votação pública que aprovou um pacote de 206 emendas constitucionais, incluindo uma específica para redefinir o conceito de casamento como sendo algo exclusivamente entre um homem e uma mulher. 

No Paquistão, a Tribunal Superior de Lahore ordenou que um homem transgênero se submetesse a um “teste do conselho médico” para definir seu gênero, segundo o Express Tribune e outros veículos da mídia. O homem e sua esposa foram acusados ​​de manter um casamento homossexual, mesmo que ele tenha sido submetido a uma cirurgia de afirmação de gênero e que sua carteira de identidade conste que ele é um homem. Em 2018, a Assembleia Nacional do Paquistão aprovou a Transgender Persons (Protection of Rights) Act (Lei de Proteção dos Direitos de Pessoas Trans , na tradução livre para o português), possibilitando que pessoas trans mudem o gênero em documentos de identidade, proibindo a discriminação e assegurando outros direitos.

Nas redes sociais na Tailândia, as pessoas estão usando a hashtag #SayNoToPartnershipBill (diga não ao projeto de lei sobre parcerias) em oposição ao PL que visa reconhecer uniões entre pessoas do mesmo sexo. As objeções vêm de pessoas que apoiam a equidade de matrimônio, mas dizem que o atual PL pode não ir longe o bastante, representando um retrocesso nos direitos do movimento LGBT. O atual projeto concederia alguns direitos aos casais, como a possibilidade de adoção; no entanto, não permitiria que funcionários públicos em uniões homoafetivas tivessem os mesmos benefícios dos casais heterossexuais.

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Que as Cortes decidam: Nos Estados Unidos, uma coalizão de 23 procuradores-gerais do Estado iniciaram um processo contra o Departamento de Saúde e Serviços Humanitários - Department of Health and Human Services (HHS) – e o diretor encarregado do gabinete de Direitos Civis por causa de uma nova lei que  revogaria proteções no sistema de saúde e em planos de saúde baseadas em identidade de gênero, status de transgênero ou estereótipos sexuais . De acordo com o Wall Street Journal, “a determinação é parte de um esforço maior da administração Trump que visa desenvolver proteção religiosa” – isto é, algo que permitiria aos funcionários do sistema de saúde negar a provisão de cuidados médicos, com os quais eles não concordem. A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, que lidera a coalizão, salientou:

“É inaceitável negar assistência médica aos americanos que precisam, e é especialmente muito alarmante  fazer isso no meio de uma pandemia”.


Ainda nos EUA, a ACLU entrou com uma ação contra o Centro Médico St. Joseph (Universidade de Maryland) por ter se recusado a prestar atendimento a um homem trans. O homem estava agendado para fazer uma histerectomia clinicamente necessária, mas, uma semana antes da cirurgia, o hospital cancelou o procedimento porque "violava as crenças católicas do centro médico". Se promulgada, a nova regra do HHS, que visa revogar proteções com base na identidade de gênero, afetaria este caso e outros semelhantes.

 

Na Colômbia, o Ministro da Saúde divulgou três investigações a respeito da morte de Alejandra Monocuco, uma pessoa trans que vivia com HIV e que morreu em junho quando a equipe de saúde foi negligente. Conforme noticiado pela jornalista Otillia Steadman, a colega de apartamento de Monocuco ligou no atendimento para COVID-19 depois que descobriu que a paciente estava com problemas respiratórios. Depois que paramédicos chegaram e tomaram conhecimento que ela era soropositiva, deixaram-na sem o devido atendimento. O ex-vice-procurador-geral, Jorge Perdomo, afirmou que houve várias irregularidades no caso. De acordo com a Trans Community Network (RCT), pelo menos 16 mulheres trans foram mortas em 2020 – seis durante a pandemia de COVID-19. A diretora de comunicação, Juli Salamanca, comentou:

“A Alejandra foi morta por um Estado negligente que nunca se importou com ela ao longo de sua vida e que, em seus últimos momentos, deixou que ela morresse - por causa do estigma que seu corpo carregava, por ser trans, por ser negra e pobre, vivendo com HIV, e por ser profissional do sexo”.

 

Em El Salvador, a Justiça considerou três policiais como culpados pela morte da mulher trans Camila Díaz Córdova, sentenciando-os a 20 anos de prisão. A Human Rights Watch classificou a decisão como “central” para os direitos trans, justamente por ser a primeira sentença por homicídio concedida pelo assassinato de uma pessoa trans no país. Córdova havia pedido asilo nos Estados Unidos por muitos anos para escapar de violência de gangues. Ela foi sequestrada e assassinada não muito tempo depois de ter sido deportada pelos EUA — a revista Foreign Policy documentou sua difícil trajetória.


A Human Rights Watch divulga que um tribunal da Arábia Saudita condenou um homem por violar a moralidade pública ao "promover homossexualidade online" e “imitando mulheres”. Mohamad al-Bokari é um blogueiro iemenita que postou um vídeo nas mídias sociais pedindo direitos iguais. Após sua prisão, ele foi submetido a um exame anal e não recebeu nenhum aconselhamento. Ele foi condenado a 10 meses de prisão, a multa de 10.000 riais sauditas (USD 2.700) e será deportado de volta ao Iêmen.

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Religião: No Haiti, milhares de manifestantes, comandados por líderes de igrejas protestantes, marcharam em Porto Príncipe contra o novo código penal do país. Colocado em vigor pelo presidente Jovenel Moise no verão, sem discussão com parlamentares, o código será efetivado em 2022 – a menos que seja rejeito pelo Parlamento. O código inclui proibições de discriminações que sejam baseadas em orientação sexual, além de punir estupro e assédio sexual e descriminalizar parcialmente o aborto. No entanto, muitas pessoas interpretaram mal o novo código, alegando que ele estaria legalizando bestialidade, pedofilia, forçando a aceitação de matrimônios entre pessoas do mesmo sexo (algo que continua definido pela Constituição como algo entre um homem e uma mulher). Os autores, que são membros da Comissão Presidencial pela Reforma da Justiça, divulgaram para o Le Nouvelliste uma defesa ponto a ponto sobre o código e explicaram como ele foi mal interpretado.

 

De Ruanda, o jornalista Fred Muvunyi falou aos membros da “Igreja de Deus na África em Ruanda” – uma igreja que aceita a comunidade LGBT+ na congregação. Embora Ruanda seja o único país do sudeste da África que não criminaliza a atividade sexual entre pessoas do mesmo sexo, as pessoas LGBT sofrem discriminação e violência com frequência. O pastor Jean de Dieu Uwiragiye explicou: 

“Todo mundo é livre para vir aqui, independentemente de fazer parte da comunidade LGBT+. O que importa é  pregar o amor e a salvação de Deus”.

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Medo e Repúdio: A Human Rights Watch divulgou um novo estudo que evidencia a  violência sexual e o trauma cometidos contra homens, meninos, mulheres trans e pessoas não binárias durante o conflito na Síria. O relatório constatou que os serviços de apoio existentes se concentram quase exclusivamente em responder às necessidades de mulheres e meninas. Pouca atenção é dada às necessidades de homens e meninos. O documento pediu que doadores internacionais e a União Europeia providenciem recursos específicos para apoio médico, psicológico e social de homens, meninos, mulheres trans e não binárias sobreviventes no Líbano.

 

Na Rússia, a “Queer Women of the North Caucasus Support Group Initiative” (QWNC) publicou uma nova pesquisa examinando as estratégias de sobrevivência de lésbicas, mulheres bissexuais e transgêneros no norte do Cáucaso, apontado como sendo “sexualmente repressivo”. Muita atenção global foi dada à região em 2017, quando o noticiário informou que as autoridades chechenas estavam “eliminando” pessoas por suspeita de serem gays. O relatório notou que a situação perigosa vivida por lésbicas, mulheres bissexuais e pessoas trans ainda é invisível. O objetivo do estudo é trazer “uma profunda compreensão do problema e respeito pelas experiências das mulheres”, unindo esforços para apoiar mulheres queer e pessoas trans na região. A ILGA-Europa observou:

“Esta publicação é de grande importância para todos que seguem nessa luta e procuram confiar em uma compreensão completa e sutil da realidade. Amplifica as vozes daquelas pessoas que não foram ouvidas o bastante”.

 

Em um texto para a BBC, a jornalista Layla Mahmood compartilhou a história de Mohamed, um jovem gay da Somalilândia (uma área autodeclarada da Somália) cuja família o enviou a um "centro de reabilitação" para reajustar jovens considerados “desviados dos valores somalis”. Mohamed está atualmente se escondendo de familiares que o ameaçaram de morte. Ele busca asilo na Malásia.

 

The Tamil Guardian divulgou um estudo sobre a situação enfrentada por pessoas LGBTI no Sri Lanka com ênfase nas dificuldades suportadas por pessoas de origem Tamil. O presidente do Sri Lanka, Gotabaya Rajapaksa, estabeleceu recentemente uma força-tarefa para criar uma "sociedade virtuosa" e eliminar o "comportamento antissocial". O relatório concluiu que a força-tarefa, um clima de impunidade, uma história de violência étnica, homofobia desenfreada e o lockdown da pandemia de COVID-19 estão sobrecarregando o povo LGBTI Tamil. Um ativista comentou:

“Nenhum político tâmil falou nada [a respeito dos direitos LGBT] - eles nem consideram que vale a pena discutir o assunto... As pessoas odeiam o que não entendem”.

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Ventos da Mudança: O UNAIDS destacou o trabalho do grupo armênio “New Generation”, que inaugurou o “Espaço Seguro” - um abrigo para pessoas vivendo com HIV, membros de populações-chave e mulheres que sobreviveram à violência doméstica. Apoiados por psicólogos, advogados e profissionais de saúde, os clientes ficam, em média, 15 dias para ajudar que se reergam durante a pandemia de COVID.

 

Vários diplomatas israelenses pelo mundo compraram cerca de 272 quilos de tahini para apoiar a empresa “Al-Arz” contra um boicote. Julia Zaher, a filantropista israelense-árabe e CEO da companhia, virou alvo de clérigos muçulmanos conservadores depois de ter dado uma doação significativa para o grupo LGBTQ Aguda, direcionado a um telefone de auxílio (na língua árabe) para jovens LGBTQ. O boicote viralizou com lojistas postando vídeos nos quais denunciavam direitos LGBTQ e destruíam caixas de tahini. O ativista gay local Khader Abu Saif afirmou que as reações aos protestos revelam que mais pessoas estão aceitando a população LGBT árabe:

“Isso mostra que estamos passando por algumas mudanças e começando a ganhar um pouco de poder. As pessoas começaram a entender que, em toda família árabe estendida no país, há pelo menos uma pessoa que é LGBT”.

 

Em um texto para o Sixth Tone, o professor Wei Wei, da East China Normal University, compartilhou um estudo sobre as dinâmicas entre famílias com seus membros LGBT. O pesquisdor constatou que a ênfase cultural do país asiático nas famílias multigeracionais, o aumento da “barriga de aluguel” e de outros métodos de reprodução para os casais LGBT abriram as portas para uma maior aceitação. Ele observa:

“De uma maneira inesperada, porém compreensível, os pais dos filhos LGBT estão agindo como cuidadores em casa e como pontes para a corrente dominante heteronormativa do país lá fora”.

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Educação: Em um posicionamento oficial, o comissário do Conselho da Europa para os Direitos Humanos, Dunja Mijatović, disse que uma oposição cada vez maior à educação sexual obrigatória nas escolas de muitos países europeus está relacionada a uma oposição mais ampla à promoção dos direitos humanos das mulheres e das pessoas LGBTI. Ele condenou campanhas que tentam assustar os pais, espalhando informações distorcidas ou enganosas sobre a educação sexual. Mijatović detalha porque a educação é importante para os direitos humanos de uma criança e explica como melhorar o acesso ao assunto.

 

Publicado recentemente, um artigo da Lancet descreve como a educação sobre sexualidade compreensiva (CSE) está relacionada à violência baseada em gênero. Ao notar que a COVID-19 aumentou os riscos de violência de gênero para muitas pessoas, o texto ressalta que a população deveria ter acesso a esse conhecimento como sendo parte da recuperação em relação à Covid:

“A CSE supre nossa juventude com o conhecimento necessário e as habilidades para desenvolvermos nossas próprias identidades saudáveis, desafiarmos as normas sociais, prevenirmos a violência de gênero e, por fim, conduzirnos a vidas mais saudáveis e completas.”

 

A escritora e educadora Jimanekia Eborn conversou com o “Scarleteen” - um programa feminista de mídia e educação LGBTQ, que é inclusivo e providencia um currículo abrangente sobre educação sexual, treinamento de equipe, serviços interativos, encaminhamento para assistência médica e muito mais. Eborn descreveu como a oferta de educação sexual inclusiva, para pessoas queer, trans, negras e indígenas (QTBIPOC - Queer Trans Black Indigenous People of Color), ajuda jovens a superar o trauma e a crescer:

“Os jovens estão cansados de não serem ouvidos... Eles estão lutando já por suas próprias causas, por seus futuros e mesmo por nós. Estão cansados de histórias pela metade. Querem a informação na íntegra e buscam o merecido conhecimento”.

Mais sobre educação 

 

 Esportes e Cultura: O jornal The Guardian informou que o World Rugby - o órgão dirigente da União de Rugby que administra a Copa do Mundo de Rugby - está propondo a proibição de mulheres trans de jogarem rugby. Atualmente, elas podem jogar se tiverem reduzido a testosterona por pelo menos um ano. A proposta sugere que a redução da testosterona não é suficiente para proteger outras jogadoras do “risco de lesão por causa da natureza do contato do rugby”. O International Gay Rugby criticou a proposta por implementar um “padrão irracional sem uma pesquisa apropriada”. Mais de 15.000 assinaram uma petição contra a proibição.

 

 A OkayAfrica destacou nove pessoas LGBTQI+ do continente africano. A lista inclui ativistas, escritores, estudantes, celebridades e profissionais da área de saúde cujas histórias desafiam noções préconcebidas sobre o que é ser LGBTQI+ na África.

 

A nova obra ousada da cineasta Miyuki Tokoi, “Zero As You Are”, analisa o que significa ser homem ou mulher enquanto conversa com a pessoa mais jovem e a pessoa mais velha a se submeter a uma cirurgia de afirmação de gênero. (Confira o trailer no link acima!) Tokoi diz que fez perguntas que normalmente eram consideradas muito sensíveis ou um tabu. Ela explicou que, no Japão, “tendemos a rejeitar pessoas diferentes”, esperando que o filme abra a mente das pessoas:

“Se questionarmos o assunto [diversidade de gênero] como algo nosso e se nos perguntarmos sobre nossas próprias identidades, as pessoas vão começar a pensar: é uma sociedade melhor para se viver.”

Saiba mais sobre esportes e cultura

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